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Desmistificando Exu


Na Umbanda, os Exus compõem uma Linha de Trabalho à Esquerda. São espíritos humanos que tiveram várias encarnações, cometendo erros e acertos, como todo ser humano, mas com um diferencial: se conscientizaram e retomaram o caminho da Lei Divina, obtendo permissão para se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem no auxílio à nossa evolução.


Os Exus atuam como Guardiões da Lei Maior. Absorvem e esgotam as negatividades dos seres que se desviaram das Leis do Criador. Depois, vitalizam as qualidades positivas deles e então os neutralizam, deixando seus magnetismos aptos a que retomem o caminho da evolução.


Todas as Linhas da Umbanda são amparadas por um Mistério Divino e por um Orixá. Exemplos: os Caboclos manifestam o Mistério Caboclo, sustentado por Pai Oxóssi; Os Pretos-Velhos manifestam o Mistério Ancião, sustentado pelos Orixás Obaluayê e Nanã. O mesmo acontece com os Exus. O Orixá que dá sustentação ao Mistério Exu e às Entidades Exus é o Orixá Exu. Na Umbanda, este Orixá não é cultuado diretamente. Mas está presente e atuante, pois as Divindades existem e estão presentes em nossas vidas, ainda que alguém não as reconheça. Por exemplo: quer se reconheça ou não que Oxalá e Oxum são Orixás, Eles continuam existindo e atuando na Criação. O mesmo acontece em relação aos demais Orixás, inclusive ao Orixá Exu.


O Orixá Exu recebeu na Umbanda uma Linha à Esquerda, na qual se apresentam os espíritos Exus, que recebem este nome porque trabalham na Força, no Poder e no Mistério do Orixá Exu e o manifestam entre nós quando dão consultas, passes, fazem descarregos, cortam magias negativas etc. Quando uma Entidade trabalha na Força, no Poder e no Mistério de determinado Orixá, então as Qualidades desse Orixá se manifestam por meio dela. Os Exus recebem oferendas nos respectivos campos de atuação: matas, rios, lagoas, à beira-mar, cemitérios, caminhos, encruzilhadas, pedreiras etc. Existem Exus trabalhando na Irradiação de todos os Orixás e os seus nomes simbólicos indicam o campo de ação de cada um e onde deve ser oferendado. Exemplos: Exu das Matas- Irradiação de Pai Oxóssi- recebe oferenda nas matas; Exu Caveira- Irradiação de Pai Omolu- recebe oferenda no cemitério, num ponto à esquerda no Cruzeiro; Exu do Lago- Irradiação de Mãe Nanã- recebe oferenda nos lagos e lagoas; Exu Porteira- Irradiação de Pai Obaluayê (porteira é portal, é passagem)- recebe oferenda à direita do Cruzeiro do cemitério; Exu do Mar- Irradiação de Mãe Yemanjá- recebe oferenda à beira-mar; etc.


A origem do Orixá Exu enquanto Divindade está em Deus. Todas as Divindades provêm de Deus. Mas em termos culturais, sabemos que o culto de Orixás vem da África, especificamente dos povos Nagôs, de língua Iorubá. Logo, a origem cultural do Orixá Exu também é Nagô-Iorubá. Na África, o culto ao Orixá Exu é ancestral e milenar. Curiosamente, aparece em todas as regiões daquele continente, de forma que não há como saber em qual região africana esse culto começou. Ao contrário dos demais Orixás, que eram cultuados nessa ou naquela região (daí o nome Culto de Nação), o Orixá Exu aparece em todas as regiões da África. Dentro da visão umbandista, isto tem uma razão de ser. Os Exus que trabalham na Umbanda atuam nos Sete Sentidos da Vida, ou seja, atuam nos campos de todos os Orixás. E dizemos: Exu é o dono das encruzilhadas, o que é fato. Mas o que é uma encruzilhada? Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata.


Todos os pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e de manifestação de Exu. Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os Caminhos. Na África não se cultuava a Entidade Exu, como ocorre na Umbanda. Lá, Exu é um Orixá “mensageiro” que leva os pedidos das pessoas aos outros Orixás e traz as respostas; é a grande “boca” pela qual os outros Orixás falam com os homens; é o primeiro a receber oferendas, a ser servido e despachado, para recolher as negatividades e levar embora os problemas e perturbações. Tem culto e oferendas específicos e também seus sacerdotes (os “Omo-Exu” = filhos de Exu), que o tratam com o mesmo respeito dedicado aos demais Orixás. É respeitado como Orixá, e não como espírito. Já na Umbanda não é comum o culto ao Orixá Exu e Sua presença entre nós se faz por intermédio das Entidades Exus, que são os manifestadores do Seu Mistério.


Existem aspectos na atuação de Exu que nem sempre são bem interpretados: Exu lida com aspectos positivos e negativos da Criação. Exu rege sobre a dualidade; o que acarreta uma dificuldade na compreensão do Mistério Exu. Pois Exu atua no Alto, no Embaixo, na Direita e na Esquerda, guardando e mantendo a Lei e a Ordem na Criação. No Embaixo, é bom lembrar que Exu é quem leva Luz às trevas; um Exu de Umbanda NÃO é “das” trevas! Exu é ativo, mas também passivo e neutro. Exu guarda a quem faz por merecer o amparo da Lei Divina (atuação passiva). Mas também intervém como Executor da Lei contra quem viola as Leis do Criador, para esgotar suas negatividades (atuação ativa). Quando elas forem esgotadas, Exu vitaliza as qualidades positivas do ser (atuação ativa), para então neutralizar-lhe o magnetismo. A partir daí, aquele ser tem como recomeçar o trabalho evolutivo que a cada um compete. Exu não ataca a ninguém. Exu só intervém por um comando da Lei Maior, ou quando é ativado magisticamente. Nos trabalhos religiosos de Umbanda, também a atuação de Exu é sempre delimitada pela Lei Divina, é sempre para o Bem.


Pela sua dualidade, o Mistério Exu é muitas vezes interpretado de forma negativa. A interpretação negativa (“demonização”) do Mistério Exu é antiga. Remonta à época da colonização das Américas, quando os europeus iam à África para comprar escravos e lá encontraram uma cultura muito diferente da sua, passando a interpretá-la com base em seus próprios valores e crenças. E a primeira demonização de Exu foi feita principalmente pelos Padres católicos, conforme relatos registrados por Pierre Verger nos seus livros “Orixás” (Editora Currupio) e “Notas sobre o Culto de Orixás e Voduns” (Editora Edusp).


Para a Igreja Católica da época (séculos XIV a XVII), nenhuma religião, além do Catolicismo, era válida. As outras religiões “não eram de Deus”; logo, suas Divindades também “não eram de Deus”, então só poderiam ser “demônios”… Para o modelo judaico-cristão do que é religião e do que é o Sagrado, era muito difícil compreender aquela cultura na qual as pessoas não usavam roupas, o sexo não era considerado profano, não existia pecado original, os órgãos sexuais não tinham de ser escondidos etc.; e onde o Orixá Exu representava, entre outras coisas, a virilidade masculina, tendo como um de seus símbolos o órgão sexual masculino. Além disso, na cultura Africana as lendas mostram Exu com um comportamento muito próximo do nosso: ora alegre, ora nervoso, irreverente, irrequieto; ora protegendo as pessoas nas guerras e lutas, ora fazendo emboscadas etc. Exu é mostrado como o mais “humano” dos Orixás; e o símbolo fálico representava a virilidade, a força masculina, o poder e o Mistério do Orixá Exu, a vitalidade ou vigor que é preciso para se fazer as coisas, não tendo conotação sexual e muito menos “pecaminosa”. Mas para a Igreja Católica da época o sexo era algo pecaminoso, o corpo humano deveria ser coberto etc.; e, portanto, Exu só poderia ser “um demônio”… O Orixá Exu é uma Divindade de Deus.


Fonte: Instituto Cultural Sete Porteiras do Brasil


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